PARÁBOLAS DE VALONGO: "O TROLHA BADALHOCO" E "O VARREDOR DE RUAS DESBOCADO"...
Take 1:
Naquele dia completadas que foram duas jornadas de um simples e básico trabalho de 'trolhice' - a parte final já em 'câmara lenta' para durar até às 17 - o 'especialista em rebocos, impermeabilizações e afins' acabado de lavar as mãos, refrescar a cara e a zona sovacal e fazer um afago de pente na vasta cabeleira. Deixei-o soprar os piolhos imaginários do pente e dar o toque final à 'cinta descaída' das calças e só então me aproximei para lhe perguntar "quanto era"...
Laconicamente e enquanto digitava um SMS no telemóvel - talvez a avisar a garina de que a espararia à saída do emprego daí a minutos - estendeu-me um fragmento de saco de cimento-cola onde se podia ler - 'em letra de trolha' - o seguinte: "2 dias de 'travalho' x 60 'érios' = 120 'érios'.
Estendi-lhe a mão com 5 notas de 20 euros e mantive-a estendida para o cumprimento de despedida - na verdade já esperava o que veio a seguir:
- "Ó chefe! só me deu 100 'érios' !
- " Ah! Desculpe... - respondi, enquanto lhe estendia um pequeno 'post-it' com o seguinte texto: 'Executar a triagem de diversos inertes (cacos de tijolo, pedaços de cimento, garrafas de cerveja e respectivas caricas, maços de tabaco amarrotados, embalagens de batatas fritas num total de +/- 20 Kg) = 15 euros; transportar tudo até ao ecoponto = 5 euros; Total: 20 euros'.
- "Pode ser neste neste 'post-it' meu caro - interroguei com um sorriso maroto?
Soprou mas nem respondeu enquanto dava a meia volta da praxe.
Em verdade em verdade vos digo, aquele que não lava o prato onde come, quando o voltar a usar, ainda que prepare a mais apurada das iguarias acabará sempre por comer merda à mistura...
Take 2:
Naquela manhã fresca de Outono, andava o modesto varredor de ruas atarefado na sua habitual labuta diária de varrer a porcaria dos animais do burgo - dos irracionais e também dos outros - à mistura com as primeiras folhas das árvores que já pressagiavam dias bem piores, quando de repente vê aquele engravatadinho de pasta a tiracolo e ar de 'agente de cobranças difíceis' a amarrotar o pacote de sumos e respectiva palhinha e a jogá-los para o chão, mesmo nas suas 'barbas'...
- "Ei! Ó amigo! Então é assim?"
- "Que é que queres ó bacano? Se não fosse eu a ajudar nem terias trabalho!"
Apeteceu-me responder-lhe à letra mas disse-o apenas para mim próprio, enquanto engolia em seco:
( - "Se não precisasse tanto do emprego, partia-te a boca toda só para ajudar o meu primo que é dentista!").
Em verdade em verdade vos digo, aquele que semeia pedras no caminho do seu semelhante, mais tarde ou mais cedo vai encontrar um pedregulho na sua auto-estrada...
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Vem isto a propósito dos comportamentos pouco responsáveis da Câmara mais badalhoca das redondezas - infelizmente a nossa - onde os promotores das 'Vilas pró-diabéticas' das 'Zen Natura' do burgo com as suas palestras e workshops, terapias e outros serviços a preços reduzidos (tarot, leitura de mãos, runas, reiki, massagens, astrologia, medicina chinesa) e outros eventos que tais, só preocupam com o caminho de 'ida' e (quase) nunca com o de 'volta'...
E de repente, ainda vêem umas 'tias queque' barafustar quando os cidadãos reclamam contra as faixas e os 'nagalhos' pendurados nos postes ou colocados nas esquinas dos passeios semanas a fio à espera que o tempo ou uma oportuna intempérie faça o trabalho por eles.