PARAFRASEANDO ARY DOS SANTOS - "ROUBADO E CASTRADO NÃO"!
Hoje apetece-me, vá-se lá saber porquê, falar de promessas...
As faces e os reversos da mesma moeda:
"O líder do PSD, Pedro Passos Coelho, garantiu hoje que, se ganhar as eleições, "não vai mexer nas taxas de IVA" e que pretende recolher mais dinheiro dos impostos "alargando a base". "Eu já tive ocasião de dizer que o PSD, e eu próprio, não vamos mexer naquilo que são as taxas de IVA que estão previstas, nomeadamente no acordo que foi estabelecido com a União Europeia e o Fundo Monetário Internacional. Nós vamos ter de recolher mais dinheiro dos impostos alargando a base, que não aumentando ou agravando as taxas do imposto", disse."
Passos Coelho falava numa acção de campanha em Valença do Minho, durante a qual ouviu as preocupações dos comerciantes e dos autarcas locais sobre a disparidade já existente entre o IVA em Portugal e em Espanha."
(...)
Reverso 1:
(...)
Lembra-se desta promessa Dr. Passos Coelho? Tem a certeza?
O que fez esta semana relativamente à subida de taxa do IVA de dois bens como a electricidade e o gás natural da taxa mínima (6%) para a taxa máxima (23%) provocando um aumento nas despesas mensais das famílias portuguesas (que se traduz num acréscimo de 12,75 euros à factura para uma família com consumo de 50 euros mensais de electricidade e 25 euros de gás natural) é um roubo. Repito: UM VERDADEIRO ROUBO!
(...)
(No mesmo Jornal e na mesma data)
Face 2:
Pedro Passos Coelho, ex-candidato à liderança do PSD, considerou hoje em Braga que os políticos "recebem porcaria de volta dos cidadãos quando se lhes dirigem com falta de respeito e com promessas não-cumpridas".
"Se lhes transmitirmos credibilidade os portugueses compreendem, se lhes falarmos sem verdade e com falta de respeito, eles compreendem que estamos a ser batoteiros e em Portugal já temos um Estado batoteiro", afirmou. O dirigente partidário falava no Bom Jesus de Braga sobre "Jovens e Política" durante uma conferência organizada pela JSD local, uma espécie de "universidade de verão" para os militantes.
Pedro Passos Coelho considerou que, na política portuguesa, tem de acabar a situação de os poderes públicos darem emprego aos amigos em vez de optarem pela qualidade técnicas daqueles que escolhem para os cargos. Abordando um recente estudo encomendado pelo Presidente da República, Cavaco Silva, sobre a participação dos jovens na política, Passos Coelho disse que os dados revelados sobre o afastamento dos jovens "não são diferentes dos de Espanha, França ou mesmo de quase todo o mundo ocidental".
O social-democrata disse que "é preciso atacar as causas" desse afastamento, entre as quais destacou o facto de, muitas vezes, ainda se "confundir rituais democráticos e democracia". "Vemos isso acontecer em países de África ou da Ásia, mas, mesmo em democracias ocidentais, há, por vezes, mais ritual do que democracia", acentuou.
(...)
Reverso 2:
O próprio, isto é, Pedro Passos Coelho!
Face 3:
Foi colocado no youtube há pouco mais de uma semana e já foi visto por mais de 320 mil pessoas. Estamos a falar de um vídeo com declarações feitas por Passos Coelho em 2010 e 2011 e que foram contrariadas pelo próprio depois de ter sido eleito primeiro-ministro.
Não ao aumento de impostos, não ao corte das pensões mais baixas, sim ao aumento do corte na despesa do Estado... Estas foram algumas das ideias ditas e reditas por Passos Coelho em 2010 e 2011 antes de ser eleito primeiro-ministro. E que não foram cumpridas por Passos Coelho primeiro-ministro.
Os autores do blogue Aventar decidiram agora compilar por ordem cronológica as declarações feitas pelo presidente do PSD.
Relembre então as convicções de Passos Coelho.
In: DN - 24 de Outubro de 2011
Reverso 3:
Algumas centenas de pessoas receberam hoje em protesto, em Coimbra, Pedro Passos Coelho, que se deslocou à cidade no âmbito da sua candidatura à liderança do PSD, para exigirem a continuidade das obras do projecto do Metro Mondego (MM).
Os manifestantes gritavam palavras de ordem como "queremos o metro" e exibiam cartazes em que se lia "senhor primeiro-ministro, honre o que prometeu na campanha eleitoral" ou "senhor ministro, mostre que é um homem de palavra, termine a obra".
O primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, deslocou-se ao final da tarde a Coimbra para participar numa reunião fechada a jornalistas, com militantes do seu partido, depois de ter estado presente num encontro idêntico no Fundão, igualmente no âmbito da sua recandidatura a presidente dos sociais-democratas.
Questionado pelos jornalistas, Passos Coelho escusou-se a comentar a manifestação e a responder a quaisquer outras perguntas, dirigindo-se para a sala onde está reunido, nas instalações do Instituto Português da Juventude.
(...)
Reverso 4:
(...)
O discurso do poder hoje assenta num rito de passagem. Estamos em 2014, o nosso ano da “libertação do resgate”, o nosso 1640, o ano em que a troika se vai embora. Este é o tempo, que culmina com um rito de passagem, porque o momento lustral de recuperação da “soberania” tem data. Por isso, acentua-se o momento da “passagem”, para festejar um resultado e anunciar uma nova aurora. É tudo ficção, porque não há nenhuma mudança substancial a ocorrer em Maio de 2014, vamos continuar presos àquilo a que já estamos presos, seja pela troika, seja pelo direito de veto de Bruxelas aos Orçamentos, seja pelo Pacto Orçamental, mas é uma ficção útil, instrumental. Festejemos.
Para que é que serve este tempo até Maio? Para nos dizer que até lá temos que aceitar tudo, em particular esse Orçamento e as suas sucessivas revisões, cujo conteúdo miraculosamente não entra no discurso oficial, a não ser como o “instrumento necessário” para o fim do resgate, ou seja, uma coisa neutra e menor. Discute-se e fala-se muito de uma coisa etérea, os “sinais da retoma”, e quase nada sobre uma coisa dura e sólida, o Orçamento que aumenta e muito a austeridade para 2014. Quando vejo alguém centrar o seu discurso nos “sinais da retoma” já sei ao que vem, e já sei aquilo de que não vai falar.
A natureza do Orçamento e o que ele nos diz sobre o que se passou nestes últimos dois anos e o que se vai passar neste ano de 2014 e no futuro são deixados em silêncio. E silêncio porque não encaixa no tom congratulatório que tão útil vai ser para as eleições europeias e as legislativas. Aliás, o silêncio sobre as motivações eleitorais que já estão presentes na política do Governo é uma das grandes debilidades da análise presa ao discurso do poder. Passos e Portas e, de modo diferente, Cavaco pensam e muito nas eleições de 2014 e 2015, primeiro para as desvalorizar e assegurar que vão ser inócuas quanto ao “ajustamento”, ou seja, não servem para mudar políticas, depois para favorecer os partidos mais fiáveis para esse objectivo, o PSD e o CDS, e o PS de arreata. O discurso sobre o “compromisso” tem igualmente o objectivo de levar o PS a coonestar a interpretação governamental e presidencial do “ajustamento” e torná-lo inócuo como factor de mudança em eleições.
Depois de Maio, o discurso vai mudar. Vai-nos ser explicado, a todo o momento, “que a austeridade” não pode acabar”. Findos os festejos, ver-se-á se há ou não plano cautelar. A inexistência de uma discussão séria sobre um possível plano cautelar, cujo conteúdo se ignora, é um bom exemplo de como não há verdadeiro debate democrático no nosso espaço público. Se o plano cautelar for para um ano, como disse Passos Coelho, ele terá a natureza de uma continuidade da presença da troika por outra forma, e atirará para quem governar em 2015 decisões que este Governo pretende cuidadosamente evitar em ano eleitoral. Se for a mais longo prazo, disfarçado ou às claras, há que exigir que vá a votos, coisa de que ninguém fala ou quer e percebe-se porquê.
Reverso 5: