PORTUGAL E AS FORÇAS ARMADAS - AS "MORDOMIAS" QUE ANULAM (OU LIMITAM) OS DIREITOS DOS CIVIS...
O caso do roubo (?) de armamento em Tancos e o comportamento da estrutura militar - com especial e lamentável destaque para a PJM (polícia judiciária militar) tem colocado as Forças Armadas "debaixo de fogo"...
No que toca ao cabal apuramento dos factos e das responsabilidades dos envolvidos nesta monstruosa e, salvo melhor opinião, mistificação organizada ao mais alto nível de decisão, tem conduzido a um preocupante avolumar das dúvidas de muitos anos sobre a necessidade de continuarmos a manter - pelo menos nos moldes actuias - Forças Armadas em Portugal.
A guerra colonial terminou há mais de 40 anos.
* Tenha sido uma boa ou má decisão, pertencemos juntamente com a Espanha à União Europeia e as nossas fronteiras terrestres estão abertas e só em casos muito especiais podem ser encerradas;
* A Espanha, nosso inimigo de outros tempos, é hoje uma Democracia e embora permaneça no campo monárquico, o Rei tem o poder que tem e todos conhecemos e não me consta que ele inclua o direito de decretar a invasão de Portugal;
* Para o bem e para o mal, Portugal é membro da Nato e a aliança, pelo menos é suposto que isso aconteça, teria sempre a obrigação de nos defender em caso conflito externo;
Portanto...
* Existe alguma justificação racional para a existência de Forças Armadas em Portugal?
* Existe alguma justificação para a manutenção de um Serviço de Saúde Militar paralelo e redundante com o Serviço Nacional de Saúde e com "mordomias" inaceitáveis em termos democráticos?
Um exemplo concreto
Por motivos que só a mim dizem respeito, tenho ido ultimamente e com alguma frequência ao Hospital dos Lusíadas (Avenida da Boavista) no Porto.
Estaciono - quando tenho vaga - em frente ao Hospital Militar D. Pedro V e, como todos os civis - que em Portugal são a esmagadora maioria - tiro o meu ticket do parquímetro (ou carrego a respectiva aplicação) para pagar o tempo que demoro.
Por vezes fico no carro (quando não sou eu o doente, evidentemente) e tenho a oportunidade de ver o movimento daquela enorme e cara estrutura militar de saúde, com a permanente entrada e saída de enfermeiros civis, de médicos civis, de prestadores diversos de serviços civis, de familiares diversos dos militares de carreira no activo ou já reformados (pais, esposas ou maridos, irmãos, tios, primos, namorado(a)s (eventualmente), de amantes (eventualmente)...
Alguns dos utilizadores do parque de estacionamento do Hospital Militar entram, estacionam e não raras vezes antes até de concretizarem a finalidade que ali os levou, lá saem a pé para tratar da vidinha no exterior, voltando a entrar muito tempo depois e, não raras vezes, com 'sinais exteriores' de operações comerciais variadas...
Eu por acaso, também sou civil, mas tenho uma (pequena) especificidade: fui furriel miliciano enfermeiro e em 1969/1970 (não me lembro bem e também não me apetece ir à procura da minha caderneta militar para conferir) fiz ali uma parte do meu estágio de enfermeiro.
Mas nem que me permitissem - por especial e estranha deferência - o acesso à "mordomia" de um Serviço de Saúde específico e injustificado eu não aceitaria!
* As especificidades de um Serviço de Saúde militar justificaram-se enquanto existiu uma guerra colonial com a prevalência de doenças tropicais, de feridos de guerra, de urgência específica na recuperação dos militares feridos.
* Não é essa a situação que vivemos e por isso, acabem de vez e com urgência com o esbanjamento orçamental dos "D. Pedro V deste País", com as ambulâncias militares sub-aproveitadas, com os carros e os motoristas pessoais ao serviço do senhor general (ou coronel ou brigadeiro, ou 'pastel de belém') com os meios auxiliares de diagnóstico redundantes, com a contratação de profissionais de saúde tão escassos no Serviço Público e com todas as mordomias atribuídas a grupos específicos de cidadãos, sejam eles militares (ou familiares de) juízes ou outros!