PORTUGAL, UM PAÍS DOIS SISTEMAS - ATÉ QUANDO?
Declaração prévia de interesses:
Sou Funcionário Público aposentado, trabalhei no sector da Saúde (Hospital Central Especializado de Crianças Maria Pia no Porto).
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Entre muitos outros problemas graves com que o País real se debate neste momento, aquele que mais sentimos em termos imediatos é o da escassez crónica de meios - sobretudo humanos - na área da Saúde.
Se já era assim (quase) desde sempre, a implementação do regime das 35 horas sem a correspondente contrapartida ao nível da contratação veio instalar - e continuo a situar-me no sector da Saúde - o caos que só não vê quem é cego ou pior que isso, quem não quer ver.
Ganhar eleições ou gerir popularidades à custa das promessas que se fazem de forma irresponsável - porque se sabe à partida que a implacável realidade do País torna impossível o seu cumprimento - é uma pecha velha de anos neste País de Abril por cumprir.
Apesar de se equiparar ao velho preparado da 'banha da cobra' que garantindo todas as curas nada cura de facto, a verdade é que o embuste continua a vender bem e - pasme-se até com os números das sondagens - registará mesmo a entrada de novos crentes.
É um facto que um horário de 35 horas é um objectivo razoável tendo em conta que os trabalhadores não são máquinas e têm uma outra vida para além da profissional - vida social e familiar, necessidades de formação e de lazer, actualização ou aquisição de novos conhecimentos, satisfação de necessidades culturais, descanso...
Que qualquer governo considere possível implementá-lo de forma rápida e sem fazer (prévias e muito ponderadas) opções orçamentais muito bem debatidas com a sociedade, cheira a banha da cobra ou a lamentável reserva mental de que se especializou na arte de vender sonhos.
Mas bem pior do que isso, é o governo - qualquer governo - continuar a pensar que neste rectângulo à beira-mar plantado existem dois ´países': o País do sector Privado e o País do sector Público.
Em questão de direitos e deveres ou de sistemas de remuneração de base regulada não pode ser - tem de deixar de ser - assim!
Lamento ter que o dizer - e adivinho até as críticas que, de forma mais ou menos explícita, muitos me farão por o dizer - mas o horário das 35 horas, a ser possível, tem de ser para TODO o País que trabalha e não apenas para o 'País' do sector Público!