INCÊNDIOS E INCONTINÊNCIA VERBAL...
A propósito da onda de incêndios que tem assolado o nosso País, temos ouvido dizer de tudo um pouco - nestas alturas, há sempre quem procure o seu momento de glória proporcionado pela comunicação social e trepe ao palco abarbatando os microfones mesmo sem ser convidado, para dizer as coisas mais improváveis...
Quase sempre com ar professoral para disfarçar a incompetência que os mais próximos bem lhes conhecem, há quem aproveite para proferir autênticas "verdades de la Palice", produzindo os comentários mais improváveis acerca de alheias responsabilidades e omitindo à boa maneira do chico esperto português, as próprias culpas no cartório...
São os palradores de ocasião - neste caso, de uma ocasião bem grave e dramática para tantos portugueses - mas que vindo o palrar da parte de quem vem, às vezes corre-se o risco de o mesmo poder funcionar como gasolina em vez de calda retardante como o momento exigiria.
Um bom exemplo do que acabo de dizer, chega de S.Pedro do Sul e do seu vice-presidente de Câmara, que critica a actuação das forças de combate, a inactividade dos militares que estão para ali ao monte, etc., etc., esquecendo-se porém de assumir a própria e criminosa negligência, ao não cumprir a Lei que obriga a Autarquia (e pelos vistos, muitas outras por esse País fora) a nomear o respectivo comandante operacional da Protecção Civil Municipal.
Correndo o risco de me colocar no papel do mais improvável defensor do actual ministro da Administração Interna a quem já tenho zurzido duramente neste mesmo espaço - direi que o problema dos incêndios no nosso País, já há muito que não reside nos meios de combate, por mais insuficientes que eles sempre sejam nestes momentos de aflição, mas muito mais a montante! E aí, a grande parte das culpas dividem-se por esta ordem (eu penso assim): Ministério da Agricultura, Autarquias e proprietários particulares menos responsáveis.
O caso de S. Pedro do Sul é por isso e apenas um leve aflorar desta problemática que já se arrasta há tempo demais sem que se vislumbre sequer alguma hipótese de solução!
Ouvimos tantas vezes (a quente) defender-se a "pena de morte" para os incendiários, que no mínimo, o que se exigiria para este "incendiário" de S. Pedro do Sul, apanhado em flagrante e com a boca no microfone, é que fosse preso e condenado a trabalhos forçados - a montante do problema: ordenamento e limpeza das matas, abertura de aceiros, vigilância...
PS: Pior a emenda que o soneto...
Jaime Soares da Associação Nacional dos Municípios Portugueses, AQUI lançou mais uma carrada de mato para a fogueira, ao dizer mais mais ou menos isto: "Os municípios não vão dar o poder a um técnico (Comandante Operacional da Protecção Civil), porque a autoridade máxima da Protecção Civil Municipal é o Presidente da Câmara e às tantas, esse técnico estaria a coordenar com uma qualquer estrutura Nacional à revelia do Presidente".
E chamam "dinossauro" do poder autárquico a este exemplar? Então não lhe ocorre que ser autoridade máxima de uma qualquer estrutura, não significa necessariamente ser um especialista em todos os domínios da actividade da mesma?
Por alguma razão, o Presidente da República, que é também o Comandante Supremo das Forças Armadas, não precisa de ir aprender a pilotar um avião, a comandar uma corveta ou um submarino (agora já temos um...) ou a manobrar um carro de combate para comandar, nem as várias "chefias operacionais" dos três ramos das Forças Armadas estão inibidas de concertar em cada um desses ramos ou entre eles, estratégias técnicas, sem que o Presidente se sinta atingido na sua autoridade!