Cada vez me surpreendo mais com as semelhanças entre alguns políticos e os fósseis: O tempo passa por eles sem os alterar - aos últimos, por dentro obviamente...
Vem isto a propósito de um texto publicado no AVANTE do dia 5 de Novembro e que não resisto a transcrever o seguinte fragmento:
"Alemães de Leste preferem socialismo
20 anos de retrocesso
As ditas «comemorações» do 20.º aniversário da queda do muro de Berlim são pretexto para mais uma campanha anticomunista, na qual se procura criminalizar os ideais do socialismo e os que lutam pela superação do capitalismo".
Não sei se quem escreveu este "artigo de fundo" é jovem ou velho (por dentro, é "velho seguramente) se conheceu o "Berliner Mauer" de perto ou se apenas ouviu falar dele, se conviveu ou não com muitos dos alemães de Leste que se viram separados "de corpo e alma" dos seus familiares por aquela sinistra "obra de engenharia".
Não sei nem sei se me interessa saber - afinal não sou Paleontólogo e por isso o estudo dos "fósseis" não me atrai particularmente...
Mas sei que entre Setembro e Novembro de 1979 - faltavam ainda 10 anos para a derrocada - eu estive na então RDA, integrando um grupo de dirigentes da Intersindical num curso de monitores de formação que decorreu na Escola Superior Sindical Fritz Heckert em Bernau, arredores de Berlim.
Passei muitas vezes - literalmente - ao lado do Muro e constatei o sofrimento que ele provocava entre os alemães - desde logo "nos do lado de cá", mas também nos outros porque não nos podemos esquecer que a ABERRAÇÃO de cimento armado cortou literalmente ao meio, casas e as famílias que nelas habitavam.
Não quero omitir - nem deixar por isso de fazer "meia culpa" - que tal como muitos outros jovens do meu País, eu alinhava nessa altura pela realidade virtual da "Grande tarefa da construção de uma Sociedade Socialista, blá-bá-blá..." que nos era "ministrada" em doses de catequização maciça nas Fábricas, nos Sindicatos, nos Jornais, nas Rádios, nas ruas e que por isso, aceitei ainda durante algum tempo olhar para aquela realidade não virtual à luz das explicações dos "fazedores de verdade" da altura.
Mas na altura da QUEDA do Berliner Mauer, eu já estava do lado certo - do lado daqueles que se alegraram e vibraram com a alegria dos alemães, sobretudo dos Berlinenses.
No dia 9 de Novembro de 1989 - de que amanhã se comemoram 20 anos - ao contrário de muitos dos actuais dirigentes do PCP, (tal como John Kenedy em 29 de Junho de 1963 na sua visita a Berlim Ocidental) apeteceu-me gritar "Ich Bin ein Berliner!"
Post-Scriptum: Tenho a certeza que no actual PCP, apesar de tudo, há quem consiga ir um pouco além desta velha "cassete" com apenas duas "pistas": Lado 1 - A construção da sociedade socialista; Lado 2 - A luta contra o capitalismo.
Nem tudo que não é socialista é "capitalismo selvagem", nem sequer o "socialismo" dos últimos anos do "Império" (a era pré-Gorbatchev) tinha já alguma coisa a ver com as raízes do Socialismo de Karl Marx e Friedrich Engels, ou sequer de Vladimir Ilitch Lenin.
Fica mal ao PCP falar de Gorbatchev da forma que o faz no artigo que citei - a não ser talvez por mesquinhez e por ter sido ele o primeiro dirigente da "pátria do socialismo" a fechar a "torneira" ao fluxo financeiro que durante muitos anos alimentou a "máquina" do Partido - e eu sei do que estou a falar!
Já agora, merecem ser colocados lado a lado o artigo do Avante já citado e um outro publicado no passado dia 5 no Jornal EL País, do qual respiguei a seguinte passagem:
"Hoy en día, mientras dejamos a las espaldas las ruinas del viejo orden, podemos pensar en nosotros mismos como activos participantes en el proceso de creación de un mundo nuevo. Muchas verdades y postulados considerados indiscutibles (tanto en el Este como en el Oeste) han dejado de serlo. Entre ellos estaban la fe ciega en el todopoderoso mercado y, sobre todo, en su naturaleza democrática. Había una arraigada creencia de que el modelo occidental de democracia puede ser difundido mecánicamente a otras sociedades cuyas experiencias históricas y tradiciones culturales son diferentes. En la situación presente, incluso un concepto como el del progreso social, que parece ser compartido por todos, necesita una información más precisa y una redefinición."
Repare-se na visão catastrofista de um e no optimismo do outro, para além de que o último (o de Gorbathev) é o que coloca a tónica no sítio certo - as pessoas concretas "como activos participantes no processo de criação de um mundo novo"