NEM TODAS AS CURVAS TÊM DE SER PERIGOSAS...
Antecipo-te todas as curvas, todos os sentidos proibidos, percorro-te com todo o cuidado que me ensinaram a ter e que eu procuro seguir à letra, moderando o meu fulgor interpretando todos os teus avisos - preveniram-me que eras perigosa e eu levei muito a sério quem me avisou, mas agora que nos conhecemos melhor e começamos a interagir, acho que exageraram na recomendação.
Momentos há até, em que me pareces demasiado fácil - ou estarei eu a ser demasiado temerário sem o perceber?
Saboreio a beleza com que te adornas – dito em linguagem popular, ‘como-te com os olhos’ - e sorvo o teu hálito matinal, onde se misturam os perfumes de flores silvestres, de frutos maduros e da terra húmida em que te deitas e espreguiças...
E nesta quase tântrica caminhada ao longo de ti, neste pára-arranca intercalado com acelerações bem doseadas, dou por mim - damos por nós - e já a manhã é quase tarde e a fome de ti já começa a ter a companhia de outras fomes.
Insidiosos no início, outros desejos se interpuseram entre nós, sendo agora quase incontornáveis e condicionadores do pleno prazer com que te fruía – com que nos fruíamos.
Sempre atenta, percebes a minha previdente redução de potência e avisas-me do próximo posto de combustíveis - "a um quilómetro de distância"...
Um quilómetro de ti que percorro em terceira, enquanto tento abstrair-me dos apelos vindos das profundezas de mim para que tenha em atenção e por esta mesma ordem, um certo nível de fluidos e um outro reabastecimento não menos importante.
Fiquemos portanto por aqui.
Foi um prazer – é sempre um prazer viajar em estradas nacionais bonitas, ladeadas de terrenos verdejantes enfeitados de flores e árvores de frutos – e se me permitires, depois de me retemperar e descansar um pouco, faço-me de novo ao piso...